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A Origem da Central Paracósmica - Capitulo 1

Foto do escritor: Malp DragonMalp Dragon

Confusão



A dor em minha cabeça parecia prestes a explodir. 


Nunca senti algo assim antes — ou, pelo menos, não me lembrava de algo pior.


Não era uma situação de amnésia clássica, como nas histórias de RPG que eu já vi. Eu sabia quem eu era. Lembrava do meu passado, das pessoas, dos lugares. O que eu não sabia era como tinha acabado naquela situação: deitado em uma poça de água avermelhada.


Meus olhos captaram o reflexo nos óculos caídos ao meu lado. O vidro rachado cortava minha imagem em fragmentos distorcidos. Os sons ao redor estavam abafados, como se eu estivesse submerso, enquanto um zunido irritante preenchia minha cabeça.


Estendi o braço e alcancei os óculos. Coloquei-os no rosto, ignorando as rachaduras. Era um gesto automático, quase instintivo, como se aquilo pudesse me devolver algum controle da situação. A dor latejava, mas já sobrevivi a dores piores pelo que me lembrava —  tão ruins que já pensei que morreria.


O mundo girava ao meu redor. Me concentrei, mas o zunido parecia crescer, atrapalhando minha mente. Foi então que ouvi um baque abafado, seguido de mãos me puxando.


— Você tá bem? — A voz soou distante, como se viesse de outro mundo.


Não consegui responder, então gesticulei e ele entendeu. Com esforço, colocou-me em suas costas, como uma mochila.


— Vamos sair desse buraco antes…


Antes que ele terminasse a frase, o mundo explodiu.


A onda de choque nos lançou longe. Minhas costas bateram contra uma parede, e o corpo dele caiu sobre mim, prensando-me como um sanduíche. Soltei um grunhido e empurrei seu peso para longe.


Quando finalmente consegui vê-lo melhor, algo me fez congelar. Mãos e pernas escamadas, linhas vermelhas percorrendo o corpo. A pele parecia rachada, mas de forma quase imperceptível. O rosto estava oculto pela posição, mas os chifres e a cauda eram inconfundíveis.


Meu grito morreu em tosses. Dei um passo em sua direção, mas minhas pernas falharam, fazendo eu cair de joelhos. Estiquei o braço, tentando alcançá-lo, mas antes que pudesse tocá-lo, senti algo agarrar minha perna.


Fui arrastado para longe, meu corpo raspando no chão. A dor queimava minha pele enquanto eu lutava inutilmente para me soltar. O passeio terminou de forma brutal: fui erguido em um arco e, em seguida, jogado de costas no chão. O impacto arrancou o ar dos meus pulmões, e o som de estalos ecoou. Não sabia dizer se era o chão ou meus ossos.


Por um momento, tudo ficou azul.


O céu estava limpo, sem nenhuma nuvem, e o sol parecia zombar de mim com sua luz intensa.


— Certo. — A voz soou acima de mim, cortando o silêncio.


Uma sombra entrou em meu campo de visão, o sol às suas costas criando brechas de luz que me cegavam. Ele me ergueu, e por um instante achei que ia me ajudar, mas tudo que fez foi me colocar de joelhos.


— Vamos acabar logo com isso.


Minha visão clareou a tempo de ver o cano de um revólver apontado para minha testa. O rosto atrás dele era familiar, mas estranho. O sorriso que ele exibia era perturbador, como se estivesse saboreando o momento. O brilho do sol iluminava seus longos cabelos loiros, dando-lhe uma aura quase divina — ou talvez fosse um aviso.


— Alguma última palavra? — A pergunta veio acompanhada do som metálico do cão sendo armado.


Sim, havia algo que eu queria dizer. Meu cérebro coçou, procurando essas palavras, mas elas estavam fora de alcance. Era como se estivessem escondidas em algum canto esquecido da minha mente.


Enquanto eu buscava desesperadamente por elas, tudo ao meu redor desacelerou. O som do meu coração ecoava nos meus ouvidos, cada batida como um tambor ensurdecedor. E, no meio disso, minha mente começou a voltar. A lembrar.


De tudo.



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