top of page

A Origem da Central Paracósmica - Capitulo 6

  • Foto do escritor: Malp Dragon
    Malp Dragon
  • 6 de fev.
  • 13 min de leitura

Sete Balas



Chegar no chão naquela velocidade seria fatal para qualquer humano.


Não para nós. Com algumas simples, mas bem calculadas, manipulações de nossas auras, evitamos o impacto e entramos em formação ao redor do nosso inimigo. Estávamos em campo aberto de grama rasteira. Ninguém para testemunhar a entrada e o combate que continuaria ali.


O outro eu riu enquanto limpava as vestes, observando-nos antes de focar o olhar em mim.


— É por isso que você não estava tão chocado quanto eu imaginei que estaria! — Concluiu, mostrando as armas mais uma vez. — Você já tinha se encontrado com outros!


— Acho que isso também — disse, coçando o queixo enquanto pensava em tudo que já passei —, mas já passei por tanta coisa que você é só mais um na minha vida.


— E todos vocês são amigos? — Encarou Dragon, enfrentando a expressão feroz do meio-dragão com a própria, debochada. — Nunca pensaram em pegar a alma um do outro para se fortalecer?


— Não precisamos disso com a Conexão! — Grunhiu o escamado, sua pele queimando e dando lugar a mais escamas. Garras surgiram no lugar das mãos e diversos pontos se tornaram protegidos pela pelos fios rochosos, da mesma forma que chifres de rinocerontes.


— A Conexão? Aquela coisa idiota que funcionava em sonhos? — O olhar confiante de antes deu lugar a curvas mais inquiridoras. Seu olhar passou por algo em seu passado, focando no vazio do ar. 


Para muitos, seria a oportunidade perfeita para atacar, mas eu os detive com um gesto. Esperava a conclusão, pois saber o motivo de não o sentir era o que eu mais queria naquele momento.


— Besteira — concluiu. Seus socos ingleses brilharam com sua aura, prontos para o combate. — Esse dom idiota não tinha nenhuma serventia para mim. Só serviu para eu achar você.


Suspirei, entendendo o motivo. Era tão óbvio, eu só não queria acreditar. Para mim, abrir mão do meu dom por poder era inconcebível. Algo que jamais consideraria. Mas, afinal, eu não conhecia ele. Não sabia que história, que passado, moldou essa pessoa que buscava mais poder sem se importar com as consequências.


— Uma pena que pense assim.


Com um estalar de dedos, dei o comando para atacarem.


Gina, conhecida como Garra entre os guardiões, mostrou o motivo do apelido. Seu dom projetou-se como dois conjuntos de garras de energia. Longas e afiadas como espadas na direita, curtas, robustas e pontiagudas na esquerda. Um contraste que ela aprendeu a utilizar com verdadeira maestria. 


Já Myu, a Mutante, liberou seu dom em partes. Mutações nos braços para os tornar maiores, elásticos e mais articulados, além de cobri-los com uma carapaça que resistia até aos ataques de sua irmã. 


Mostrando sua sincronia, minhas filhas atacaram o outro eu sem perdão. A ideia de atacar alguém com meu rosto já fazia parte delas, pois meu maior medo era alguém feri-las com ele. 


— Sério isso? — A surpresa em sua voz não passou despercebida por mim. — Você não tem vergonha de mandar elas no seu lugar?


— Infelizmente, pra você, não — Ri. A esfera de aura em minhas costas a poucos segundos de estar pronta. — E eu estou no meu lugar aqui.


O sorriso que mantivera por tanto tempo, começou a dar lugar para olhos mais atentos e dentes pressionados. Quando tentou um contra-ataque, foi punido por um golpe esmagador da minha caçula. Ao bloquear as garras ao invés de desviar, foi cortado pela mais velha. Os golpes delas passavam suas defesas e dano se acumulava muito além do que ele regenerava.


— Tenho que admitir — contei, vendo a aura dele fluir muito mais rápido que qualquer uma das nossas. — Sua técnica de regeneração é impressionante. 


— E eu admito que essas duas são melhores das que eu deixei lá em casa! — Disse em meio ao combate. 


Não sei dizer a razão, mas aquelas palavras aceleraram meu coração. Uma sensação estranha, que eu era incapaz de distinguir. Algo novo, mas mesmo assim similar. Buscando por ela dentro de minha alma, entendi sua origem.


— Espera, Dragon! — Gritei, mas já era tarde.


Um disparo de sopro de dragão, uma elipse de energia concentrada e particularizada, uma granada de energia por assim dizer, colidiu com o meu oposto. As partículas voaram como agulhas finas, perfurando a alma dele com buracos muito mais perigosos que disparos reais.


— Relaxa! — Berrou de volta do outro lado do nosso inimigo. — Eu não acertaria elas!


Ele não acertou porque elas já haviam treinado para desviar de ataques meus. Uma combinação nossa que visava não deixar espaço para qualquer reação de nossos adversários. Entretanto, era algo mais planejado do que aquilo, pois qualquer fração de tempo em uma batalha era importante.


E Plam sabia disso.


No segundo em que elas pularam para voltar até ele, o meu oposto pulou, afastando-se delas para correr em minha direção. A distância foi cruzada a uma velocidade impressionante para alguém que tinha acabado de receber um sopro nas costas.


— Peguei você! — exclamou com um novo sorriso cortando seu rosto.


O golpe veio em minha direção, e pude ver os detalhes do soco inglês. As lâminas e espinhos, feitos para machucar, e a aura que circulava como uma serra. Não havia dúvida sobre sua intenção.


Por isso, larguei-me ali mesmo, deixando o corpo cair sobre a esfera que criei. Ela absorveu o impacto e girou para longe dele, comigo deslizando por cima dela para evitar o chão. Eu terminei o movimento de joelhos e com a esfera agarrada em um abraço, um segundo antes de ver outro ataque vindo em minha direção.


— Opa! — escapou de mim. Apertei a esfera de aura e uma das metades inflou, absorvendo o impacto antes de o jogar para longe.


— Isso é tudo que consegue fazer? — riu, dando um novo salto em minha direção. — Essa coisa não vai te defender duas vezes!


— E não precisa. — Segurei a esfera na frente do rosto.


Ele então mudou o curso para acertar um ponto desprotegido, mas foi pego por outro disparo de Dragon. Com o equilíbrio perdido, ele não conseguiu se manter no lugar quando o ataque de Myu o atingiu, jogando-o para mais longe.


— Não esqueça que estamos aqui, otário! — gritou Gina, vindo para meu lado.


— Ele com certeza achou que podia acabar com você rapidinho — riu Dragon, passando por cima para ficar à minha frente. — Parece que não vai precisar usar sua técnica.


— É — comentei, sem desfazer a esfera. Eu vi que os ataques foram fortes, no entanto, também notei que ele nem caiu —, mas não vamos nos precipitar. Ele ainda tá de pé.


Ele então fez algo que eu não esperava de alguém que tomou um soco equivalente a um atropelamento de caminhão desgovernado. Ele suspirou, arrumando a roupa e os cabelos.


— Sinceramente, não queria usar isso, mas fazer o que, né?


Eu agarrei minha esfera em antecipação. Esse tipo de frase nunca é um bom sinal, ainda mais de alguém que eu torcia para já estar no chão, não olhando para nós com o sorriso mais contido dele até então.


Ele juntou as mãos e pude ver os socos ingleses brilharem com sua aura. A forma deles começou a mudar e sua atenção estava nessa mudança.


— Até parece que eu vou deixar! — Gina bradou, explodindo sua aura abaixo dos pés para se lançar contra ele.


— Espere, Gina! — chamei, mas ela já estava muito longe.


Por que tentei impedi-la?


A velocidade com que o metal moldava-se em sua nova forma. Era rápido demais para não ser algo praticado diversas vezes, tanto que já seria uma segunda natureza para ele. O que significava que não era algo que lhe deixaria aberto.


— Como sempre — começou, segurando o objeto em sua canhota —, você é afobada demais.


O estrondo da arma de fogo rasgou o ar, atingindo meus ouvidos como um golpe seco. Sempre foram sensíveis a sons fortes e, mesmo após meu despertar, isso não mudou. Entretanto, resisti à dor para manter os olhos na cena diante de mim.


Minha filha não mudou sua trajetória, mas isso podia significar tantas coisas, muitas ruins e outras piores, que não mexi um músculo sequer enquanto ela se aproximava do chão. Seus pés tocaram o solo, seu corpo se equilibrou e ela permaneceu em pé.


— Ué? — ouvi a voz dela, permitindo que meus pulmões voltassem a funcionar. Ver ela passar a mão pelo corpo à procura de um ferimento que não existia deixou-me ainda mais aliviado. — Isso era festim?


— Não — contou Plam, apontando em minha direção. — Eu só não acertei você.


Ouvi um som gutural vindo do meu lado. O típico som que faço quando me engasgo, só que diferente. Outra repetição me lembrou da vez que quase me afoguei. Foi então que decidi olhar em sua direção.


Dragon segurava a garganta, os dedos escorregando no sangue quente que jorrava de sua boca. Sua aura queimava ao redor, um reflexo da luta desesperada para manter-se de pé. Pela conexão, senti a surpresa e a raiva dele, focando tudo que sabia sobre si para retornar o sangue para dentro enquanto fechava o ferimento.


Enfrentar o outro eu não me assustava por já conhecer os outros e pelas vezes que lutamos uns contra os outros para aprimorar nossas habilidades, mas ver um rosto tão semelhante ao meu sofrer daquela forma, sentindo tudo pela nossa conexão... Aquilo foi perturbador.


A única coisa que me tirou do transe foi o segundo disparo.


— Pai! — Myu me empurrou e a bala acertou sua mão. 


Seu grito fez meu corpo reagir, jogando a esfera em sua direção. Em vez de se impactar com minha filha, a bola se expandiu e a envolveu como uma bolha. Pude ver que a bala que a atingiu não só feriu seu corpo, como fragmentou a alma dela naquele ponto. A mutação daquele braço retrocedeu e suas energias combinaram-se com as minhas para a recuperar.


— Como você ousa! — Gina berrou, atacando-o mais uma vez. 


Plam desviou com facilidade, aproveitando a redução de oponentes. Em um movimento, ele pegou o braço da minha filha e dobrou-o contra o próprio ombro, fazendo o terrível som de osso quebrando ecoar junto do grito dela. Sem perder tempo, ele apontou a arma para a outra mão e disparou, criando um buraco na carne e na alma, desativando seu dom.


— Gina! — Gritei junto a Myu. Ela bateu contra a bolha, mas a mesma permaneceu inteira. — Não! Fique aí! Eu vou lá.


Sem me importar com os riscos, voei na direção deles. O que restava de aura em mim era pouco se comparado com o que coloquei na bolha, mas isso não importava. Para mim, era o suficiente.


— Fica frio — riu o outro eu. — Eu não quero nada com ela.


Com essas palavras, ele a girou ao seu redor pelo braço quebrado, gerando mais gritos que me impulsionam ainda mais. No fim do movimento, meu oposto soltou minha filha, jogando-a em minha direção. 


Segurei ela o melhor que pude, sem tempo para pensar onde doía ou não. Meus olhos queriam descer para verificar se ela estava bem, mas um pequeno brilho em minha visão me lembrou de outro perigo.


— É só você e ele que me interessam. — Foram as palavras antes do quarto disparo.


Não agi por consciência. Nem por medo. Se tivesse, talvez pulasse para longe, aumentaria as defesas com barrilis ou armilis, ou qualquer outra coisa. Eu sempre odiei sentir dor e não importava que outros sentissem, só me sentindo mal as vezes quando era algum conhecido. Entretanto, aquela era minha filha e eu não queria que ela sentisse mais dor.


Por isso virei nós dois para receber o disparo no lugar dela.


Talvez nem fosse a atingir, mas não pude arriscar. Quando me dei conta, senti a clavícula sendo estraçalhada e quase deixei que Gina caísse, porém, com uma precisão além de minha mente, transferi partes da minha aura para preencher o lugar e manter o braço funcionando.


— Sorte sua — Plam comentou. Pelos sons, ele estava se aproximando de nós. — Essa foi o ombro.


Me impulsionei para frente, voltando para onde Myu e minha bolha estavam. Não arrisquei voar para não perder o controle do ombro, mas o segundo disparo quase me fez esse desserviço.


A esquerda nunca foi meu lado mais forte, então quase caí quando ela teve que aguentar todo meu peso. A quinta bala acertou o joelho oposto, arrancando o osso de trás para frente. Mais uma vez, minha alma e aura correram para me dar suporte, evitando a queda.


— Joelho… — escutei ele abrir a arma. Um som conhecido por mim já que um dos membros do meu grupo tinha diversas armas e sempre as limpava quando podia. Não houve som de cápsulas caindo, nem de outras que tomaram seus lugares. — Me pergunto qual dessas será o coração.


Tais palavras e ausências quase foram o suficiente para eu virar. O quão estranhas eram, fazendo meu cérebro exigir uma resposta para entender as coisas. Eu neguei a vontade, focando em continuar.


Senti algo me agarrar. Uma espiada revelou ser Gina. Chorando e falando algo que não consegui entender. A sensação de algo escorrendo pelos ouvidos me incomodou, mas nada daquilo me fez parar.


A dor veio rasgando minhas costas. Quando percebi que não ia parar, ergui minha filha em um movimento rápido, quase desmoronando. Não caí e a salvei do projétil que me atravessou, já sendo uma vitória para mim. Pela dor e região, imaginei que esse disparo destruiu meu rim, então nem foquei em reparar ele por agora.


Olhando para cima, vi Myu gritar e bater contra a bolha. Sua mão parecia melhor, mas minha vontade ainda impedia a bolha de se desfazer. 


Estava quase lá. Só mais um pouco…


— Que tal acabarmos com isso? — Senti o metal nas minhas costas. A aura dele fluindo para dentro de mim só para conseguir falar comigo. — Você não vai conseguir escapar assim.


Sem virar o rosto, sorri.


— Eu não preciso — contei, mantendo o olhar na minha caçula. Sozinha com a bolha que a protegia.


Sozinha, sem o Dragon por perto.


O sexto disparo veio com um empurrão. Senti a vibração da arma percorrer meu corpo. Por algum motivo, não senti nenhuma dor dessa vez, mas não consegui me manter de pé. 


Evitei que Gina batesse no chão com outro giro, deixando que minhas costas recebem o novo impacto. Olhando para onde estavamos, vi Dragon com um pé ensanguentado.


Ele e meu oposto agora se enfrentavam em um combate direto. O meio-dragão exibia garras vermelhas que se estendiam até os antebraços e joelhos, atacando com força usando os quatro membros e a cauda. Já o loiro desviava e usava a coronha do revólver para contra atacar, conseguindo até arrancar um dos chifres do cabeludo.


Decidindo que esperar o resultado não era a melhor escolha, arrastei-me com o que restava da minha alma até minha bolha, deslizando como se estivesse sobre uma esteira lenta. Chegando lá, não perdi tempo em colocar Gina dentro da esfera, fazendo companhia à sua irmã.


Com dificuldade e apoiando-me no que ainda sobrava da minha energia, fiquei de pé, encostando as costas na bolha para absorver um pouco do que deixei ali e tentar me recuperar.


Isso não durou muito, pois logo fui esmagado contra ela pelo meu aliado. Caí sentado, com ele no meu colo, um corte na testa e a ausência dos chifres indicando quem havia levado a pior.


Ele então apontou a arma para mim, sorrindo. Daquela posição, consegui ver o tambor com seis espaços vazios e apenas uma bala restante, brilhando em energia vermelha. Não precisei pensar muito para entender que aquele modelo comportava sete balas e que aquela era a última.


Pude sentir a vibração dos ataques da minha filha contra a bolha, incapaz de perfurá-la. Aquilo me deu um alívio. Se elas saíssem vivas, tudo já teria valido a pena.


— Que tal assim? — disse ele, colocando Dragon no meu colo de forma que ficássemos alinhados. — Dois por uma bala só!


— Vai à merda — retrucamos juntos.


— Nos seus sonhos.


A arma se alinhou conosco, mas algo chamou sua atenção. Em um segundo, sua mira subiu e algo grande voou em sua direção. O brilho do disparo foi o mais forte até então, queimando sua imagem em minha retina por alguns segundos.


Fiquei confuso com tudo aquilo, tentando entender quem ou o que avançava sobre ele com uma brutalidade e selvageria que iam além até do Dragon. A resposta veio quando meu apoio desapareceu e caí de costas na grama.


A bolha havia se rompido, provavelmente quando fui esmagado contra ela. Gina me puxou debaixo do outro eu e me colocou no colo, permitindo que eu observasse melhor o combate. Foi então que entendi: aquela era Myu, em sua forma de mutação total.


Um monstro que parecia uma mistura de gorila, besouro, crustáceo e outras criaturas. Aquela forma poderosa também era perigosa para ela, pois liberava tantos hormônios em seu sangue que seus sentidos se perdiam. Ela evitava isso com sua aura, detectando aliados para não machucá-los, mas, considerando o quão desesperada estava, imaginei que nada a pararia até que Plam deixasse de existir.


— Ela vai matar ele! — disse Gina, ofegante. Seus ferimentos ainda eram visíveis, mas estavam se regenerando. — Ela vai conseguir, né?


— Eu não sei… — foi minha melhor resposta. O medo de que ela fosse a vítima agora era maior do que tudo o que eu sabia sobre suas capacidades. Minhas tentativas de levantar falharam, indicando que já não havia mais nada capaz de me sustentar.


A batalha continuou por segundos que pareceram horas. Cada golpe da minha filha afundava o chão, seja pelo impacto direto ou pela energia transferida pelos bloqueios de Plam. Apesar disso, ele parecia cada vez mais desarrumado, com pedaços da roupa rasgados e sangue visível pelo corpo.


Tudo chegou ao fim quando um ataque poderoso o lançou para longe. Mas, dessa vez, Myu não correu atrás dele. Ela ficou ali, respirando fundo, enquanto todos nós olhávamos para onde nosso inimigo caiu.


— Droga! — meu oposto gritou. Ele se levantou com os braços tortos, usando sua aura para colocá-los no lugar. Seus grunhidos mostravam mais uma diferença entre nós. — Vocês estão com sorte! É só isso! Sorte!


— Por que não vem aqui testar essa sorte, então?! — berrou Dragon, mas estava virado para o lado errado.

Com meu braço bom, corrigi sua direção.


— Eu bem que queria, mas vai ficar para a próxima.


Seus dedos brilharam por um instante antes de começarem a se desfazer. Como um dente-de-leão sendo levado pelo vento, seu corpo se desfez em partículas brilhantes, desaparecendo aos poucos.


— Na próxima, vou garantir que todos sejam mortos!


— Não foge, não! — Dragon se ergueu para correr, mas tropeçou após poucos passos. — Eu ainda não acabei com você!


— Mas ele com certeza acabou com você — comentei, vendo nosso inimigo desaparecer por completo. — Me ajuda a levantar.


— Tá…


Dragon suspirou e dividiu sua aura comigo. Como tínhamos a mesma alma, essa divisão acelerou minha recuperação, e logo fui capaz de me levantar. Ainda estava ferido e precisava de cuidados, mas ao menos conseguia andar até minha filha.


— Myu! — chamei, aproximando-me com cautela. Havia o risco de ela me confundir com Plam, mas não me importei. — Você fez bem. Pode voltar ao normal agora.


Como se entendesse, ela assentiu. Sua forma brilhou e encolheu, retornando à garota de sempre.


Só que, dessa vez, havia um buraco em seu peito.


Um buraco onde deveria estar o coração.


— Pai… — foi tudo o que ela conseguiu dizer antes de tossir e se desfazer na minha frente.


— Myu! — gritei, pulando para protegê-la e segurar sua cabeça. — Não, não, não!


Deitando-a, não precisei de testes para saber que estava sem pulso. Sua aura já se apagava, e isso me congelou por um momento.


— Eu não vou deixar!


Coloquei as mãos sobre o buraco, transferindo minha aura para a região e fazendo meu melhor para reproduzir um coração. Por um momento, esqueci minha aversão à dor e abri buracos em minhas próprias mãos, dando a ela meu sangue.


— Vamos! Eu não vou te deixar!


Continuei a dar o meu máximo para salvá-la. O silêncio era preenchido apenas pelo ocasional vento balançando a natureza ao nosso redor. Dragon dizia algo pela conexão, e Gina estava perto, travada no lugar.


— Vamos… — Senti meus olhos arderem, e minha visão ficou embaçada. — Por favor…


Nenhuma resposta veio da minha menina.



Comments


©2021 por Central Paracósmica. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page