A Origem da Central Paracósmica - Capitulo 5
- Malp Dragon
- 30 de jan.
- 5 min de leitura
Rosto Familiar

Tudo que escutava eram explosões.
Subi as escadas o mais rápido que minhas pernas aguentavam, avisando os outros eus pela Conexão enquanto corria. Quando cheguei ao topo, fui recebido por uma cortina de poeira que não parava de crescer. A batalha já havia começado, e era muito mais intensa do que eu imaginava.
Concentrei a aura nos meus olhos, tentando enxergar além do caos. As almas se revelaram como faróis na neblina. Reconheci muitas, mas duas chamaram minha atenção: a do Jardineiro, líder da divisão do Arquipélago Voador, e uma outra... idêntica à minha.
— Alguém já chegou aqui? — perguntei pelo canal mental, esperando uma confirmação.
— Não, por quê? — A resposta de Genekit veio rápida e seca, gerando um arrepio que percorreu meu corpo inteiro.
Antes que pudesse responder, precisei desviar de uma alma que foi lançada violentamente em minha direção. Quando passou por mim, reconheci Slender, com parte de sua roupa rasgada — algo que parecia quase impossível.
— Acho que o invasor é um alternativo — contei, voltando a observar a confusão. — Tem uma alma igual à nossa aqui!
— O quê?! — Todos gritaram em minha mente ao mesmo tempo.
— E por que esse cara não nos contatou? — Dragon foi o primeiro a destacar a voz, coletando o que eu via pela Conexão.
— Provavelmente por não querer interferência — teorizou Genekit. — Tome cuidado, Paracosmo.
— Eu sei — respondi, fechando o canal mental para me concentrar no problema à minha frente.
Um tentáculo colossal rasgou o ar acima de mim, levantando uma rajada tão poderosa que a poeira desapareceu em um instante, revelando o caos ao meu redor. O ataque foi em direção à alma da outra realidade, mas parou no impacto, incapaz de empurrá-lo. Kraken foi então girado e arremessado para longe.
Quando voltei o olhar para o invasor, vi que ele segurava Jardineiro pelos cabelos. Disse algo que não consegui ouvir à distância, mas o líder não parecia disposto a responder. O outro eu fechou o punho livre, erguendo o homem, desferiu um soco tão poderoso que o disparou para outra ilha, terminando de costas para mim.
Ele mexeu nos longos cabelos loiros, tão diferentes dos nossos, tanto na cor quanto no comprimento. Quando se virou, percebi que também usava um terno e gravata impecáveis — algo que eu e os outros detestávamos.
Ele não era apenas um alternativo. Era um oposto.
Essa realização me preocupou. Ela abria um leque de possibilidades negativas que nem conseguia cogitar. Quando seu olhar travou no meu, desprovido de qualquer tipo de óculos, soube que nenhuma conversa o desviaria do que buscava.
— Aí está você — disse ele, com um sorriso de orelha a orelha, ajeitando os cabelos como se fossem a coisa mais importante no momento. — Até que foi mais rápido do que imaginei.
— Quem é você? — A pergunta parecia idiota, mas todos os outros sabiam seu real significado.
— Um outro você, obviamente — debochou. — Pode me chamar de Plam, Malp.
A vontade de revirar os olhos para o clichê do nome invertido foi grande, mas resisti. Não daria a ele a chance de atacar enquanto eu não o via claramente.
— Estou surpreso que aqui os nomes sejam invertidos — continuou, roubando minhas palavras. — Se bem que não importa o que vão colocar na sua lápide. Eu não estarei aqui para vê-la.
— Veio aqui só para tentar me matar? — Soltei um riso, dando um passo à frente. — Não podia ser mais clichê?
— Talvez, mas eu realmente preciso ficar mais forte. — Do bolso, ele tirou um par de socos ingleses adornados com espinhos e lâminas. — E a melhor forma é quebrando as regras e aumentando minha alma. Sabe como é.
— Não é possível fazer a própria alma aumentar — retruquei, enquanto concentrava minha aura em uma esfera nas minhas costas.
— Verdade. Mas, se eu absorver outra exatamente igual à minha, ela ficará mais densa e forte, não é mesmo?
A ideia era teoricamente válida. Almas preenchiam o espaço do corpo e podiam até ser reduzidas, mas crescer além dos limites era algo que nem os mais poderosos dons eram capazes de fazer. Combinar duas iguais era a teoria mais aceita, mas todos sabiam que isso exigia viajar para outra realidade — algo repleto de riscos.
— Então você vai colocar sua realidade em risco só por uma teoria?
— Se for para conseguir o que eu quero, tudo vale a pena! — Sua frieza era perturbadora.
Eu e os outros sempre falávamos de nossos sonhos com paixão, mas ele soava como um robô. Se queria me causar medo, estava conseguindo.
— Quer mais alguma resposta? Não me importo de perder tempo aqui — disse ele, rindo, sabendo exatamente o que aquilo significava.
Por sorte, ele não sabia de Genekit e da Julgamento. Isso me dava uma vantagem.
— Que bom, porque eu estava dando tempo para eles se recuperarem.
Ao nosso redor, os outros vices se reuniram em um círculo. Kraken e Megalo, em seus tamanhos reais, pareciam prontos para destruir qualquer coisa. Mesmo assim, Plam não demonstrou qualquer preocupação.
— Já os derrubei uma vez — disse ele, erguendo os punhos. — Mais uma não será problema.
Kraken atacou sem aviso, ignorando qualquer plano. Eu peguei o Rei-Rato e pulei para longe, sendo empurrado pela força do impacto. Midos e Slender também se afastaram, voando ali perto. Megalo, atingido por um golpe colateral, começou a xingar o molusco gigante.
— E lá vão eles — comentei, vendo os dois discutirem enquanto Plam permanecia ileso. — Você devia se afastar, Rei.
— Nem vem, Sonhador! — retrucou, segurando meu braço. — Eu não sou uma criança!
Dei uma rasteira nele e o impedi de cair de cara no chão, segurando-o pelo braço.
— Você é uma droga no corpo a corpo — expliquei. — Foca em dar cobertura para nós.
Ele encheu os pulmões de ar para reclamar, mas não o fez. Em vez disso, suspirou, relutante, mas concordou e voou para longe.
Enquanto isso, Slender e Midos enfrentavam Plam. Eu observava, aprendendo seus movimentos.
Disparos de energia cruzaram o campo, mas mais atrapalharam os vices do que atingiram o alvo. Em segundos, os dois foram derrubados. Ataques foram desviados para os olhos dos gigantes e Plam ainda usou Megalo como arma contra Kraken, jogando ambos para fora da ilha.
— Isso é o melhor que vocês têm? — gritou ele, desviando outro ataque que passou perto do Rei-Rato.
— Acho que está na hora de levar isso para o chão — comentei, recebendo uma mensagem pela Conexão. Um pequeno sorriso surgiu no meu rosto.
— Chão? Quer que a batalha seja lá embaixo? — Plam sorriu, erguendo o nariz. — Eu não me importo de você mostrar o caminho.
— Não se preocupe — respondi, apontando para o lado. — Ele vai fazer isso melhor do que eu.
Antes que pudesse reagir, Plam foi agarrado pelo meteoro vivo chamado Malp Dragon. O outro eu foi arrastado para fora da ilha em direção ao planeta, mas não pareceu nem um pouco incomodado enquanto isso acontecia.
— Cuide deles, Rei — disse, erguendo os braços. — Deixe isso com minha equipe.
Duas pequenas mãos me puxaram dali. Gina e Myu, com sorrisos animados, levaram-me para o ar. Ri da empolgação delas, mas uma sensação incômoda permaneceu.
Eu só não sabia qual tinha sido o meu erro naquele momento.

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